sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Quem está em Risco Nutricional?

   No Congresso Brasileiro de Nutrologia palestrei sobre Risco Nutricional. O conceito atualmente utilizado dá maior importância ao paciente desnutrido, hospitalizado ou acamado. Acredito que o termo possa ser usado de forma mais ampla, pois se analisarmos com atenção, muitas pessoas podem estar em risco nutricional.
   Em primeiro lugar, definimos risco nutricional como qualquer situação em que há presença de fatores, condições ou diagnósticos que possam afetar o estado nutricional do indivíduo. A observação de um ou mais fatores determina a necessidade de assistência especializada.
   Em segundo lugar, estado nutricional é a condição que se encontra o indivíduo em relação a ingestão de nutrientes. Ele decorre essencialmente do equilíbrio entre 3 fatores:
1)      Composição da alimentação (qualidade e quantidade de alimentos ingeridos)
2)      Necessidades do organismo
3)      Nutrientes dos alimentos
Combinações ótimas destes 3 fatores propiciam ao indivíduo um estado nutricional ótimo, compatível com o pleno exercício de todas as suas funções vitais. Podemos chamar, então, de risco nutricional quando ocorre o consumo inadequado de alimentos, em quantidade e/ou qualidade.
   Algumas pessoas possuem insuficiência de consumo, como as GESTANTES (ácido fólico, ferro, vitamina B12 nos casos de gestantes vegetarianas), IDOSOS (sequela de isquemia ou derrame que dificultam a alimentação, isolamento social, depressão), VEGETARIANOS/ VEGANS ( Vitamina B12, ferro, vitamina D, cálcio). Outras pessoas apresentam excesso ou desequilíbrio de consumo, como OBESOS (excesso de açúcar, sal e/ou gordura com deficiência de nutrientes como ácido fólico, vitamina A, zinco, selênio, ferro), DIABÉTICOS, HIPERTENSOS.
   E quem segue as orientações de alimentação saudável - com frutas, verduras, peixes, cereais - pode estar em risco???
   Infelizmente a resposta é : SIM! Não podemos esquecer da contaminação biológica e química dos alimentos.
CONTAMINAÇÃO BIOLÓGICA:
   Os microrganismos patogênicos podem chegar até o alimento por inúmeras vias, sempre refletindo condições precárias de higiene durante a produção, armazenamento, processamento, distribuição ou manuseio em nível doméstico. Pesquisas nacionais evidenciam a contaminação de leite e derivados por bactérias e coliformes fecais; contaminação de verduras e frutas por bactérias causadoras de infecção intestinal em regiões onde são utilizados dejetos de animais como fertilizantes ou água contaminada na irrigação; contaminação de sementes, cereais e farinhas por micotoxinas ( produtos metabólitos dos fungos que, se ingeridos, são prejudiciais ao homem. Ocorrem principalmente em cereais e sementes oleaginosas como o amendoim, o arroz e o milho. Algumas, como Aflatoxina B1 - produzida por Aspergillus -  pode ser carcinogênica)
   As condições inadequadas de armazenamento não apenas favorecem a proliferação dos fungos mas também de ácaros e insetos, que podem deteriorar os produtos.
CONTAMINAÇÃO QUÍMICA:
   Não podemos deixar de citar a contaminação de peixes e frutos do mar por metais pesados. Devido à grande quantidade de dejetos industriais, anualmente toneladas de metais pesados, tais como mercúrio, estanho, prata, cromo, zinco, chumbo, alumínio, cádmio, cobre e arsênio, são lançadas nos rios e mares. Esses elementos metálicos, quando liberados em sistemas aquáticos, são incorporados à cadeia alimentar dos pescados por meio do plâncton. O consumo de pescados contaminados com alto teor de metais pesados pode causar diversos problemas à saúde da população.
   Outra realidade é a contaminação de alimentos (frutas e verduras) por agrotóxicos, que são ingredientes ativos com elevado grau de toxicidade aguda comprovada e que causam patologias neurológicas, reprodutivas e neoplásicas.

   O termo “risco nutricional” pode se tornar muito amplo se considerarmos o conceito de estado nutricional e seus 3 fatores interrelacionados. A alimentação dita "saudável", em alguns momentos, pode colocar o indivíduo em risco de complicações.
    Para minimizarmos estes riscos de uma maneira geral, devemos estar atentos não só aos hábitos alimentares e às doenças associadas, mas também aos  locais de procedência do alimento, da compra do produto, à forma de preparo e o armazenamento da alimentação e aos bons hábitos de higiene alimentar.

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